“O cinzel não corta, quando o escultor termina a estátua”, disse Cícero.
E para que você quer o cinzel, se a estátua já roubou a forma da pedra? Ao invés de assistir de fora a decadência dos sentidos, não deveríamos assistir ao crescimento interior?
A vida foi-nos dada para dividi-la em bem dos outros e de nós mesmos.
Na morte não se perde nada além da mortalidade. Parece um paradoxo: na morte perde-se o que pode morrer, porém se ganha o que não pode morrer. Tudo o que eu tenho de mortal morre na morte, porém tudo o que tenho de vivo, na morte vive para sempre.
Heidegger disse que o “Homem descobre sua vida no momento de perdê-la”, de tal modo que o homem vive mais sua vida no momento da morte, que em toda a sua vida. Aquele que não quisesse morrer não “sobreviveria” à vida.
Frente à morte e frente a Deus, é preciso mudar de linguagem. Por isso, Deus disse a Moisés: “Moisés, tira as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é terra sagrada” (Ex 3, 5). Quer dizer, o sistema de caminhar que você leva não serve para entrar neste terreno, tem que mudar o sistema. Até então, você funcionava com os olhos, com os ouvidos, com a palavra etc.. Porém, agora, vai ver coisas que não podem ser vistas com os olhos, vai ouvir coisas que não podem ser ouvidas com os ouvidos, vai estremecer por toda sua alma e todo seu ser. Aproxime-se de seu próprio mistério. A terra que pisa, a pisa pela primeira vez. Os caminhos por onde você vinha, eram os caminhos que conduziam para aqui. Agora você chegou à meta.
As sandálias (os sentidos, o raciocínio, a lógica, etc.) conduziram-no até aqui. Agora você chegou ao terreno que é propriamente seu. Tudo o que você recolheu com os sentidos faz-se colheita dentro. Não se distraia, olhando fora. Tudo o que tinha que recolher já está dentro.
(Trechos do artigo “O Mistério da Morte”, escrito pelo Pe Jesus Bringas Trueba em 2005.)
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