Sobre Tempo, Esperas e Incertezas... (Alexandra Fabri)

 

(Texto lido para reflexão - Novembro/2013)

 

Ainda bem pequena, certo dia, comecei a pensar sobre as palavras e verbos. Me lembro de atribuir a eles toda a responsabilidade de seus significados e, assim, naquele momento classifiquei-os como os que eu mais gostava” e os que “menos gostava.”

 

Me lembro de um específico que cheguei a querer que ele não existisse: o verbo esperar. Em minha fantasia, se não existisse a palavra, o verbo, não existiria a própria ação em si. Crianças odeiam esperar; elas possuem a urgência do hoje, do agora. 

 

E, assim, gastei alguns minutos de minha imaginação tentando achar uma forma de extinguir de vez o “esperar” de minha vida. Não precisou de muito tempo para que eu entendesse que meu esforço seria inútil.

 

Os anos se passaram, mas confesso que durante muitos deles, briguei com esse verbo.  Não entendia a importância do “esperar”, do processo que faz parte da vida, já que a vida em si não é produto acabado.

 

Fui descobrindo, aos poucos, que o que mais me irritava na espera não era ela em si ou o tempo que ela trazia, mas sim o fato de que, com ele, estão as incertezas. Sim, porque toda espera traz consigo o sabor da incerteza.

 

E toda incerteza nos coloca cara-a-cara com nossas limitações,  pois nos ensinam que nosso controle sobre as situações e pessoas é ilusório. Podemos sim, com nossos atos e palavras saber o que, teoricamente, receberemos da vida, mas nunca teremos a noção exata. 

 

Vamos imaginar um plantio. Se eu escolher plantar amoras, preparar a terra do jeito correto, plantar no local de clima adequado a essa fruta, tomar todos os cuidados para que a semente brote e souber esperar; após um certo tempo, teoricamente, colherei as amoras.

 

Porém, durante essa espera, pode ser que ocorram interferências climáticas que não estavam previstas; pode ser que, mesmo seguindo as recomendações, em algum momento, o inesperado ocorra e a semente não consiga brotar.

 

Assim, “o esperar” nos revela o fato de que, por vezes, a vida segue seu rumo, cumprindo os mistérios que lhes são próprios. 

 

Portanto, hoje entendo que o tempo, as esperas e as incertezas são essenciais para que saibamos exercitar nossa fé, sabedoria, força e esperança.  Fé para acreditar que o tempo se encarregará de nos mostrar e trazer o melhor, sabedoria para lidar com as colheitas inesperadas e força para recomeçar os novos plantios na esperança de que eles sejam verdadeiramente o resultado de nossos esforços e dedicação. 

 

Diante de todo esse processo tão natural e presente em nossas vidas, se soubermos observar e aproveitar, seremos sempre presenteados com aprendizados que vão, cada vez mais, nos capacitando para enfrentarmos nossas lutas e adversidades.

 

Assim, a cada dia me certifico que, apesar de difícil, esperar é um verbo essencial ao crescimento humano.

Alexandra Fabri
Consultora em Gestão de Pessoas/Comportamento Humano