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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Encontrar-se de verdade*

Quando o encontro entre pessoas acontece na verdade, ocorre uma dose de surpresa, de descoberta, de impacto e também de dor.
Não há encontros de verdade que não comportem certo sofrimento, porque supõem abandonar a segurança do ‘si mesmo’ e o isolamento. E porque encontrar o outro significa também, encontrar-se consigo mesmo.
Há algo de nós mesmos que só conseguimos ver quando o outro nos reflete, como num espelho, e nos põe diante de nós - e nele - algo de nosso interior. Por isso, no encontro entre pessoas se produz sempre uma dose de descoberta, de surpresa, de medo e de risco.
Parece-me também, que tem razão Fernando Vidal y Jorge Ubeda ao escrever recentemente: “Ainda que haja um desejo de diálogo, vivemos apegados em um espelho que não nos atrevemos a romper. O que mais tememos do Outro é que nos chame pelo nosso nome. Por isso não queremos que entrem os imigrantes dos países pobres em nossa fortaleza européia: não queremos que nos digam quem somos na realidade”. Encontrar nos compromete muito.
Talvez também, por isso, nos encontramos muito menos vezes das quais nos damos conta. Encontramo-nos menos vezes das quais nos abraçamos e nos beijamos. Há muitos abraços dados à distancia, muitos beijos dados ao ar, muitos olhares cegos, muitos contatos insensíveis, muitas palavras ocas e silêncios mudos e surdos.
Encontrar-se com o outro na verdade produz a vertigem de si mesmo, mas também a luz do valor e do sentido. Talvez por isso, o filósofo Max Sheler dizia que para conhecer os valores é necessário amar. O encontro é fruto do amor e o amor nos dá acesso ao conhecimento do que realmente vale.

O sentido da vida em meio à dor, que é tão difícil de falar e de conduzir ao encontro, pode dar-se enquanto se busca, graças ao encontro, se este acontece na verdade. Toñi parece ter vislumbrado uma faísca de sentido ao descobrir com surpresa que há ‘outra pessoa’ para qual ela é instrumento de ajuda quando se encontram de verdade.
A medicina, a enfermagem, a psicologia, o trabalho social e todas as profissões nas quais se pretende fazer uma aliança terapêutica entre uma pessoa em crise e outra que quer ajudar, só serão eficazes se produzirem encontros de verdade entre pessoas. Então, essas nobres profissões serão a realização do sentido de nossas vidas: fomos criados para nos ajudar, para nos encontrar.

* Do livro Humanizar el encuentro con el sufrimiento. José Carlos Bermejo.
Ed. Desclée de Brouwer 

Um encontro verdadeiro pode acontecer a qualquer momento.
Isso antecede qualquer outro encontro profissional. Porque terapêutico é o amor.

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