Na vida de todo indivíduo há uma quantidade notável de sofrimento, produzido por ele mesmo. Segundo os especialistas, este sofrimento, gerado pelo próprio pecado da pessoa ou por sua maneira equivocada de viver, pode chegar a constituir a maior parte de seus padecimentos.
Este sofrimento não é uma carga que deve carregar, mas uma carga que se deve “soltar” se se quiser viver com o espírito de Jesus. É importante cuidar deste bem-estar pessoal sadio, desprendendo-se de sofrimentos estéreis e desnecessários. Em geral, a reflexão cristã esteve pouco atenta à libertação deste sofrimento pessoal inútil, apesar de sua importância para viver o amor ao irmão. Deveríamos recordar mais a observação de D. Sölle, ao falar da felicidade de Cristo: “Também vale para Jesus o princípio: enquanto a felicidade for maior, haverá maior aptidão para o dom real de si mesmo. Deve-se aprender a lição de Cristo: quanto mais feliz alguém for, mais facilmente pode-se desprender de si mesmo”.
As pessoas que sofrem inutilmente, fazem sofrer. Os ressentidos criam ressentimentos ao seu redor. Os que vivem em conflitos semeiam conflitos. Os que não aceitam a si mesmos com paz, dificilmente aceitam os demais. Os que estão descontentes consigo mesmos criam descontentamentos e mal estar.
A pessoa pode, de fato, adotar atitudes muito diferentes perante o sofrimento provocado por si mesma. Alguns vivem sentindo-se vítimas incompreendidas, outros jogam nos demais a culpa de todos os seus males, penando que a fonte de seus problemas e sofrimentos são sempre os outros; alguns vêem em tudo isso uma cruz que devem levar com paciência e resignação.
A atitude mais sadia segue outros caminhos. O primeiro é tomar consciência de que a origem de tanto sofrimento inútil está em si próprio, nesse coração cheio de egoísmo, apegos, invejas, falsas ilusões, sede de poder, ressentimento, vazio interior... Da mesma maneira que a dor física é um sinal de alarme que avisa que algo funciona mal no organismo, há todo um conjunto de sofrimentos que revelam modos equivocados de viver: apegos, servidões, contradições e incoerências que impedem um desenvolvimento sadio da pessoa.
Mas não basta tomar consciência. É necessário ainda um esforço decidido para eliminar de nossa vida aquilo que nos bloqueia e impede que emerja em nós uma felicidade mais profunda e real. Nisto consiste, em boa parte, a verdadeira ascese e mortificação sadia, orientada a dar morte ao pecado e a quanto ele gera de sofrimento e infelicidade desnecessários.
Mas não basta tomar consciência. É necessário ainda um esforço decidido para eliminar de nossa vida aquilo que nos bloqueia e impede que emerja em nós uma felicidade mais profunda e real. Nisto consiste, em boa parte, a verdadeira ascese e mortificação sadia, orientada a dar morte ao pecado e a quanto ele gera de sofrimento e infelicidade desnecessários.
*Trecho do livro Es Bueno creer – José Antonio Pagola. Ed. San Pablo
Segundo o autor, algumas atitudes ampliam nosso sofrimento: O egocentrismo, como uma forma de vivermos apegados ao próprio eu que é fonte de permanente sofrimento; a apropriação, que é quando nos apegamos excessivamente às coisas e às pessoas, esquecendo-nos que precisamos aprender a libertação interior como caminho para a felicidade sadia; a inveja, causa permanente insatisfação ou pesar que corrói interiormente a pessoa diante do bem dos demais e a impede de desfrutar do que ela é e o vazio interior, uma das enfermidades mais graves do nosso tempo, a falta de sentido para a própria vida.
Seria interessante refletir e encontrar, dentre essas, quais atitudes mais afetam negativamente a sua vida e, enfrentando-as, experimentar a liberdade profunda, contrária à paralisação, de dizer basta ao sofrimento inútil e escolher ser mais feliz.
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