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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Elegância

           Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
               É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
            É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
            É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca-a-boca.
            É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a empregadas domésticas, garçons ou frentistas.
            Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores, porque não sentem prazer em humilhar os outros.
            É possível detectá-la em pessoas pontuais.
            Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
            Oferecer flores é sempre elegante.
            É elegante não ficar espaçoso demais.
            É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro.
            É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
            É elegante retribuir carinho e solidariedade. Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
            Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
            Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
            A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter essas frescuras".
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
            Educação enferruja por falta de uso.
            E, detalhe: não é frescura...
(Martha Medeiros)

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