Diga sim à vida... dê a ela um lugar!

Lugar...

Quando uma jovem engravida, supõe-se que ela estivesse dando lugar a um homem para entrar em sua vida.

Quando se toma conhecimento da existência de uma nova vida no ventre de alguém, não há mais dúvida de que o seu corpo estivesse acolhendo a vida de um homem, por quem ela nutriu simpatia, desejo, necessidade, a tal ponto de ofertar a sua própria casa, seu lugar sagrado, sua corrente sanguínea, os batimentos do seu coração, seus anseios e o gozo que pretendia viver... prazer...

Quanto uma mulher é capaz de fazer por outro alguém... quanto empenho ambos apresentam para seduzir e parecerem maravilhosos um ao outro... dignos de receber amor...

É nesse estado de graça, nesse encontro de almas únicas e apaixonadas, nessa sintonia elevada de corpos que se procuram, nessa perfeição absoluta, embora atualmente tão banalizada, que uma nova vida acontece. Não sabendo se ali é lugar perfeito para fazer morada, mas sendo fruto do encontro que deveria ser amor, companheirismo, amizade, apoio e evolução... ela surge e não poderia surgir em outra condição... assim é a vida, age por devoção e se entrega...

A vida não fica questionando se será cuidada, ela se lança por amor no amor, em qualquer anúncio, qualquer esperança... quando olhos os brotos nascendo por entre as pedras eu penso ‘assustada’ na ousadia da vida que acredita, que simplesmente cresce por mais que as condições sejam improváveis... linda e muito mais forte que possamos provar... assim é... lugar de possibilidades, da novidade, da transformação... e que lugar!

Aborto é mais do que se sabe. É dizer que o lugar não era real. Que não havia acolhida verdadeira. Que aqueles que se doavam, na verdade, não estavam conscientes do que ofertavam. A porta se fecha. A alegria, perdida entre os escombros, escorre pelas sombras, esboços de gente...
... rascunhos dos planos de felicidade são descartados como coisa qualquer...
... um corpo cheio de amor... coisa qualquer...
... um olhar pleno de desejo... coisa qualquer...
... uma nova vida... coisa qualquer...

Por esse modo ‘coisa qualquer’, o corpo é tratado com hostilidade, um relacionamento é atingido e abandonado, um amor morre... e a vida que ali surgiria tem sua morte decretada, levando tudo aquilo que poderia ser...

Não basta dizer não mate. É preciso ensinar a viver. Mostrar que a casa corpórea é de todas a mais perfeita...
... que pessoas são milagres intermináveis, que criança não pode morrer porque gente grande se equivoca não amando e não cuidando como deveria ser...
... que um olhar não poderia terminar nas curvas do corpo, mas na alegria das almas...
... precisamos aprender e ensinar que amar alguém com toda ternura e estima que ele merece, só por estar vivo, é dar lugar dentro de nós mesmos pra que a vida aconteça e nos faça melhores do que somos, de um jeito que ainda não conhecemos, mas que nada tem a ver com dor, com desesperança, com ilusão... com a morte...
... os olhos nos contam como deveria ser...
... e nós já sabemos, mas não acolhemos um pouco mais e assim vamos nos perdendo...

Quanta beleza há dentro da vida que se fez repouso e morada pra outra vida nascer e pode dizer a si mesma... fui amada e amei!
Coragem... sustente o sim que você havia começado a dizer, até o fim! A vida tende a ser algo infinitamente maior do que nossos olhos alcançam...
Respire fundo... isso já está acontecendo dentro de você há muito tempo... só a deixe crescer, cuide, cuide-se, queira bem e procure pelo Amor! Ele não decepciona, nunca! Insista e verá!

Ela brota entre as pedras, porque não pode ser nova em seu corpo e em seu coração???

Deixe-a viver!... acolha-a e dê a ela um lugar (esse lugar é você... acredite!).