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terça-feira, 7 de junho de 2011

O cristão diante do sofrimento - I

(Texto baseado na síntese feita pelo Pe. Jesus Bringas Trueba, do segundo capítulo do livro Es bueno creer - para una teología de la esperanza, de José Antonio Pagola)

           Quando se fala em sofrimento, em dor, a tendência é de evitarmos a todo custo tais acontecimentos – como se pudéssemos estar isentos deles – ou de rejeitar até mesmo pensar sobre o assunto. Assim, ao educarmos nossos filhos, por exemplo, tentamos poupá-los de todo e qualquer desconforto, porque acreditamos que assim serão mais felizes, mais realizados... Criamos mecanismos que acabam por fazê-los crer que qualquer tipo de obstáculo, qualquer dificuldade deve ser evitado para “não sofrer”, o que seria “muito ruim”.
Entretanto, o simples fato de estarmos vivendo neste mundo já torna impossível nos isentar de dores, sofrimentos, dificuldades. A própria fragilidade da vida nos evidencia a todo instante que não há como escapar de sofrer e/ou ver alguém muito perto de nós passar por isso. Nem mesmo o Filho de Deus escapou do sofrimento e da dor de ser abandonado por todos. Ou seja, mais tarde ou mais cedo nos encontramos com a dor: fome, pobreza, injustiças, guerras, enfermidades, desgraças e perdas.
E, frente a isso, vemos reações dos mais diferentes tipos. Alguns se “consolam” porque “é da vontade de Deus”. Outros se revoltam, porque entendem que “Deus os abandonou”. Muitos deixam de ter fé. Alguns colocam a “culpa” em Deus...
Uma coisa é clara: o sofrimento nos faz crescer como pessoa, pois só nos tornamos capazes de compreender toda a extensão da dor do outro quando vivenciamos uma situação semelhante em nossa vida ou quando nos colocamos, com compaixão, no seu lugar. Não se pode crescer como ser humano se não for no sofrimento, com sofrimento e perante o sofrimento.
O que quer dizer isso então? Que Deus condicionou a nossa felicidade ao sofrimento? Que Ele se compraz em nos ver sofrer?
Que o sofrimento é um misterioso desígnio ao qual estamos destinados?
É um castigo? Uma maneira de nos purificarmos?
Uma conseqüência de fatos cometidos anteriormente?
Uma prova? Um “dom” que Deus concede a quem mais ama?
Dá para entender esse esforço de interpretar as razões pelas quais nós sofremos, mas esse é um caminho perigoso: quando se pensa que o sofrimento é algo provocado diretamente por Deus, corre-se o risco de fazer de Deus um ser terrível, que reparte males e desgraças, e de Quem dá medo se jogar nas mãos.
O cristão não pode esquecer que seguir Cristo é seguir o crucificado.
E pode-se seguir o crucificado e, ao mesmo tempo, buscar ser feliz?
Pensar em felicidade não seria precisamente desviar-se da existência cristã, em cujo centro está cravada a cruz?
O que é "negar-se a si mesmo e tomar a cruz"? (Mc 8, 34).
Em que tenho que pensar, como cristão, numa vida feliz ou numa vida crucificada?
É preciso esclarecer alguns pontos para que não se fixem algumas idéias completamente erradas a respeito do sofrimento.
 
·         O sofrimento não é bom, não é um bem. Ele, em si mesmo, é um mal
Quando o mal chega a nossa vida, junto com ele vem a inquietação; nos sentimos ameaçados, escandalizados... Para nós, ele é um absurdo e não tem sentido.
O mal conduz a um sentimento de fragilidade e desamparo, isola e destrói a nossa capacidade de comunicação. Mesmo que tenhamos fé, questionamos e queremos justificativas “Como é que Deus, infinitamente bom, pode permitir que isso aconteça?” “Por que a mim?” “Por que tenho que sofrer dessa maneira?” “Quanto isso vai durar...?”
Ter fé não impede que apareçam as grandes questões e inquietações que o sofrimento traz, pois experimentamos a impotência total e apenas desejamos que tudo termine... Tudo isso é natural e esse protesto é um sinal claro de que somos chamados à felicidade, não ao sofrimento. 
·         O sofrimento não é desejado por Deus
Nós temos a tendência de dar um valor especial ao sofrimento perante Deus, como se a Ele fosse mais agradável uma vida cheia de aflições e atribulações do que uma vida de felicidade e realizações. Essa idéia de Deus é radicalmente falsa.
Acreditar que sofremos por castigo, para purificação dos pecados, como prova de fé, são idéias equivocadas que podem levar aquele que sofre a afastar-se de tudo e de todos, pois isso equivale a acreditar que Deus é cruel, é sádico e quer nos ver sofrer. Isso é falso.
Deus não é sádico, ele nos ama infinitamente. Deus é amigo da vida (Sab 2, 26), Ele quer a felicidade do ser humano e não o seu sofrimento: não se alegra no sofrimento do homem.
Ora, se não é agradável a Deus nos ver sofrer, então é perigoso relacionar essa ou aquela desgraça ou acontecimento doloroso com a vontade de Deus. O sofrimento humano não alcança o homem como se fosse o efeito de uma vontade divina ou algo permitido por Deus como uma prova, advertência ou castigo para alguém ou um grupo de pessoas. O sofrimento é uma conseqüência da nossa fragilidade e das nossas ações e escolhas no decorrer de nossa vida.  
·         Cada sofrimento ou acontecimento doloroso tem a sua causa determinada
O ser humano cresce – com sua fragilidade biológica, psíquica e moral – num mundo, criado por Deus, que ainda está em transformação, em fase de construção e acabamento, orientado e impulsionado por este mesmo Deus até a sua plenitude.
Há sofrimentos provocados por causas injustas ou atitudes erradas das pessoas ou instituições... Outros por causas incontroláveis e imprevisíveis...
Há sofrimentos inevitáveis e outros que podem ser extintos. Há sofrimentos causados pela maneira insensata de viver e outros que têm sentido porque a pessoa os assume como exigência de seu projeto de vida.
Nós, diante de um sofrimento injusto, cujas causas podem ser combatidas e eliminadas, não reagimos da mesma maneira que diante de um sofrimento inevitável, que acontece por causa da frágil e limitada condição humana. Não reagimos diante da miséria do outro, da injustiça, da corrupção, da poluição dos rios, dos desmatamentos... Mas, por exemplo, diante de uma doença, reagimos muitas vezes com revolta, com inconformismo...
Todos esses sofrimentos concretos fazem parte deste mundo em construção, que Deus vai conduzindo em uma evolução dolorosa até chegarmos à participação de sua própria vida divina...
“Sabemos que toda a criação até o presente está gemendo como que em dores de parto, e não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito. Gememos em nosso intimo, esperando a condição filial, a redenção de nosso corpo” (Rom 8, 22-23).
Se há sofrimento é porque vivemos neste mundo que ainda não está acabado, mas que caminha para vir a ser perfeito; é porque participamos desse “rio” que flui para “desembocar” numa vida plena, que é a ressurreição.
Por isso, em vez de procurar em Deus a justificação de cada desgraça ou acontecimento doloroso, nos perguntando as razões pelas quais sofremos, é melhor nos aprofundarmos no mistério de Cristo crucificado, para nos deixar iluminar pela sua luz... Senão corremos o risco de interpretar de maneira errada e dar explicações falsas ou pelo menos insuficientes para o sofrimento.
(continua)

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