A SOLIDÃO autêntica, que ajuda no amadurecimento é uma "solidão sonora": solidão habitada por alguém em contato com o próprio coração. Você encontra na solidão o que leva você à solidão.
Para experimentar esta solidão é necessário um mínimo de saúde e maturidade. A criança não pode estar só. O adolescente não quer estar só. A mulher e o homem imaturos não sabem estar sós.
"Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus" (Lc 6, 12).
"Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" (Mc 6, 30).
Exercícios oracionais
1. Imagine uma noite de verão. Você está só, respirando sossego e paz. Tome consciência das palavras que habitam a sua solidão, que saem do seu corpo, do seu coração. Escute-as em silêncio. Respire-as. O que dizem a você sobre você mesmo, sobre a sua vida atual? Começa a amanhecer; a paisagem vai tomando forma, com esse Sol que nasce graças à profunda misericórdia de nosso Deus. Escute o sussurro do Espírito; as palavras, a Palavra que habita a solidão de Jesus, que trazem o alento de uma Presença invisível. Respire as palavras Pai, misericórdia, homem, reino, justiça, vida, paz... Solidão sonora.
2. Visualize-se caminhando só, pelo deserto. Você vai em direção a um oásis e, simbolizando sua roupa, leva junto com você os papéis que desempenha em sua vida. Papeis familiares, profissionais, informais, grupais... Papéis que etiquetam você... Imagine-se vestido(a) assim, com todas essas máscaras sociais. À medida que você for entrando no deserto solitário, vá se despojando desses papéis, dessas roupas, até chegar à nudez da sua pessoa, ao coração de sua solidão. Pergunte-se com paz: "Quem sou eu, de verdade?" A solidão facilitará a sua própria resposta, não palavras alheias. Você é esses papéis, porém, é muito mais que eles, muito mais que todas essas tarefas e imagens sociais. Leve sua atenção ao mais profundo de você, àquilo sem o qual você não seria você. Nomei-o. "Levarei você ao deserto e lhe falarei ao coração". Intua com fé como o Senhor está presente, intimamente presente, naquilo que você é. Imagine-se voltando pelo deserto à sua cidade. No caminho, você encontrará as roupas que usa para andar em sociedade. Vá pegando-as, conforme lhe permitam ser a sua essência, o seu eu mais profundo; à medida que você possa compartilhá-las com Cristo.
3. Recorde momentos existenciais de solidão injusta, desabitada, de isolamento. É o que você sente, não o que você é. É doloroso: você precisa dos outros. Jesus, na solidão do Getsemani, levou com ele Pedro, Tiago e João; precisava deles perto. Mas sua oração se dirige ao Pai, com angústia, com medo, com dor. Solidão tão real em muitos momentos da existência humana, também esta misteriosamente habitada. Deus silente. Solidão em momentos cruciais da vida e diante da morte. Também nela está o Senhor, amando, ainda que você não sinta isso, que duvide ou se rebele. Que seu coração creia o que sua cabeça não consegue compreender. Aceite essa pobreza radical e abra-a ao Senhor Deus, que você tem como Rei.
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